Anjos e demónios

Também escrito por Dan Brown mas longe de ser uma reflexão sobre o clássico.
Chamam-me muitas vezes ingénua por acreditar que todos nós, todas as pessoas, somos boas pessoas. Dito assim pode de facto parecer uma utopia ou estupidez mas tem algum fundamento.
Raramente encontro alguém que me apoie nesta minha teoria. Por isso decidi torná-la mais pública para perceber as reações ou opiniões.
Na realidade eu acredito mesmo que todos nós nascemos com um potencial de vida, com uma essência boa (se bem que este bom não é no sentido moral, do bem e do mal, mas no sentido de pureza). De outra forma, todos nascemos inocentes, puros, porque detemos dentro de nós a essência da vida.
E a vida e toda a sua essência existe para evoluir, crescer de forma criativa, numa plano podemos dizer ascendente, de superação, de transcendência.
Assim, quando nascemos e durante toda a nossa existência somos essencialmente boas pessoas.
Acontece que no início da vida foram colocados dentro de nós dois animais, com o objetivo de cuidarmos deles e de os mantermos vivos. E foi-nos dito que se um deles morresse isso seria fatal para nós.
Por isso cumpre-nos a missão de os alimentar, de os nutrir. A nossa escolha está em qual vamos alimentar mais ou menos, na forma como os queremos alimentar para que se tornem mais ou menos autosustentáveis e quanto tempo vamos dedicar a esta missão.
Tendo em conta que é nossa responsabilidade a vida destes animais é lógico perceber que as nossas escolhas e a forma como vamos gerir esta nossa "maternidade" vão ter influência direta na nossa própria existência.
Se alimentamos os dois de forma igualitária eles vão ter o mesmo peso em nós. Se o fizermos de forma diferenciada, um deles vai ter mais peso do que o outro.
Se os alimentarmos de forma saudável e regulada eles vão ter um crescimento igualmente saudável permitindo que cada um de nós possa manter a sua identidade e bem estar. Assim como o seu grau de influência nas nossas decisões, escolhas e humores será menos regulada pelos seus próprios interesses e desejos.
Se por ventura alimentarmos um deles em excesso, com alimentos muito energéticos e poderosos, podemos correr o risco de sermos engolidos por ele e deixarmos que seja o animal que vive em nós a assumir a nossa identidade, a fazer as escolhas e ações por nós.
Podemos esquecer-nos desta missão e abandonar os nossos dois animais à sua sorte e esta luta de sobrevivência pode ser fatal para um deles ou mesmo para os dois e consequentemente para nós.
Assim as opções são muitas ou diferenciadas e cada uma delas irá representar algo de diferente na nossa vida.
Estes animais são normalmente identificados com o bom e o mau, o anjo e o demónio, deus e o diabo... independentemente destes nomes posso dizer que cada um deles cumpre uma função em nós.
O meu anjo é o meu lado compassivo, dedicado a causas nobres de forma altruísta, o meu lado afetivo, carinhoso. O meu anjo gosta de saber sobre as coisas e aprender com elas. O meu anjo é paciente, sabe ser ponderado. O meu anjo é sorridente. O meu anjo acompanha o meu lado mais espiritual e intuitivo.
O meu demon é o meu lado mais instintivo, o meu lado egoísta. Preocupa-se com as minhas necessidades e procura o prazer das coisas. O meu demon sabe impor limites, gosta da justiça. O meu demon tem um lado mais sério, que intimida. O me demon acompanha-me no meu lado mais tribal, na ligação à terra, puxa-me para baixo e lembra-me quem sou e de que sou feita. Também é mais sentimental e emotivo e com facilidade se deixa envolver e levar pelas emoções.
Alimentar qualquer um deles em excesso pode ser bastante perigoso e nocivo na minha existência.
Se deixo o anjo se apoderar de mim possivelmente vou ser devorado pelos outros demons que andarem por aí. Vou perder a minha história, a minha genética. Vai desaparecer a paixão e as ganas de viver.
Se alimento o meu demon de forma desenfreada corro o risco de ele próprio me devorar. Vou perder a noção de existência e de missão. Vou ficar sozinho ou vivendo numa luta constante pela sobrevivência.
Por isso o que faço com os meus animais é crucial na minha vida. Vai marcar a minha existência e o sentido da vida em mim.
Mas eles são parte de mim, não são quem eu sou, podem influenciar as minhas ações e escolhas... mas não determinam a minha essência onde a vida se manifesta e me interpela a ser eu mesma.